Em Brazil (1985), estamos em uma sociedade distópica, comandada por
uma burocracia sem rosto, em que tudo é regido por papéis e
procedimentos extenuantes, os quais são manobrados e manuseados não
por uma impessoalidade weberiana, mas por um fetichismo onde máquinas
e regras se impõem sobre os cidadãos e os controlam sem que haja
uma esfera intermediária de regulação dos seus interesses. Prédios
enormes e sem vida que sediam a administração pública funcionam
como espaços asfixiantes, sufocantes, numa sociedade cujo extenso
controle sobre o indivíduo anula e inviabiliza a existência de
diferenças. A experiência visual dessa sociedade criada por Terry
Gilliam é fascinante.
Há uma série de críticas sociais nesta obra que tem uma clara
inspiração em 1984, de George Orwell. As inovações
tecnológicas, a título de exemplo, são claramente incompreensíveis
e parecem nunca funcionar a contento. Sua manutenção depende também
de um Estado e de uma papelada que conduzem a um jogo de poder
pessoal inerentemente conflituoso. A burocracia legisla, julga e
executa, sendo a articuladora do simulado equilíbrio social. A alienação de
amplas camadas sociais se dá pela inserção no consumo e no culto à
beleza.
O enredo gira em torno de Sam Lowry que, após uma confusão boba que
faz com que o Estado confunda um cidadão inocente com um terrorista,
se envolve no caso e, na sequencia, mais profundamente, ao constatar
que a mulher que aparece em seus sonhos está envolvida na discórdia. Aliás,
atentados à bomba parecem ser tão banais nessa sociedade que as
pessoas já não parecem se incomodar com a sua frequência.
Lowry é um indivíduo deslocado desse mundo. Ele não deseja a
promoção que a mãe lhe consegue, não lhe atrai a esposa
prometida, mas não há para si um ponto de fuga, a não ser nos seus
próprios sonhos, momento em que enfrenta inimigos excêntricos e
salva a mocinha do vilão. Na realidade, ele é apenas mais uma impotente peça que integra a engrenagem dessa
sociedade bizarra e fria.
Brazil é uma caricatura do nosso mundo, no qual a reiteração dos horrores e das fraquezas humanas nos levam à naturalização dos problemas do nosso tempo e à indiferença quanto a esses. Não só isso, como a própria superficialidade dos nossos refúgios expressam uma natureza humana banal, vulgar e insignificante. Não poderia ser mais atual e rico em significados.
Brazil é uma caricatura do nosso mundo, no qual a reiteração dos horrores e das fraquezas humanas nos levam à naturalização dos problemas do nosso tempo e à indiferença quanto a esses. Não só isso, como a própria superficialidade dos nossos refúgios expressam uma natureza humana banal, vulgar e insignificante. Não poderia ser mais atual e rico em significados.
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