domingo, 3 de agosto de 2014

[Literatura] Fantasma Sai de Cena (2004, Philip Roth)

Philip Roth, romancista americano

Buscando na internet autores contemporâneos de prestígio e reconhecimento (são mais fáceis para quem tem pouco tempo ou prática na arte de garimpar obras), conheci Philip Roth, um romancista americano nascido em 1933, em Newak, Nova Jersey. Roth é considerado um dos maiores escritores dos Estados Unidos da segunda metade do século XX, sendo boa parte de sua obra tematizada pela natureza do desejo sexual e a autocompreensão. Sua ficção é caracterizada pelo monólogo íntimo, com humor e uma energia que alcança o histerismo.

Meu primeiro livro de Roth é Fantasma Sai de Cena (Exit Ghoster, 2004). O personagem principal, Nathan Zuckerman, alter ego de Philip Roth, é um escritor septuagenário que vive nos Montes Berkshire, a 200 quilômetros de Manhattan, levando uma vida isolada cerca de dois anos antes de ter sido diagnosticado com câncer de próstata. 11 anos atrás ele havia se mudado de Nova Iorque após receber uma série de cartas anônimas que continham ameaças dirigidas a si. Ele retornava agora à cidade para realizar uma cirurgia com o propósito de ter um maior controle da esfíncter, dado que desde a prostatectomia (remoção cirúrgica da próstata), ele não conseguia administrar o fluxo de urina e não possuía capacidade de ter relações sexuais.

Zuckerman necessita, após a cirurgia, passar um tempo maior na cidade para acompanhar a evolução do procedimento médico. Do seu quarto de hotel vê um classificado que lhe interessa: um jovem casal de escritores deseja permutar, durante um ano, sua residência, por outra localizada no campo. O escritor liga e marca uma conversa para o quanto antes, desejoso de realizar logo o negócio. Antes disso, ele havia revisto, de longe e involuntariamente nas proximidades de um restaurante, Amy Ballette, que com seu chapéu vermelho e cardigã de cor clara, em nada se parecia com aquela mulher que 50 anos atrás encantara seu autor preferido, E. I. Lonoff, o qual se separara da mulher, Hope, para viver com Amy até morrer.

Por uma coincidência do destino, que costuma aprontar e embaralhar a vida de quem só quer sossego, o casal do classificado, incide sobre a vida de Nathan Zuckerman de forma arrebatadora. Num aspecto, o protagonista se encanta com Jamie Logan, a mulher do casal, cujo rosto alongado e estreito, emoldurado por cabelos negros, lisos e finos, até um pouco abaixo dos ombros, revelava uma beleza e uma personalidade contagiante. É o suplício de Tântalo de Zuckerman, já que mesmo que Jamie se encantasse pelo protagonista, as restrições fisiológicas deste impediam a realização de qualquer propósito sexual.

Por outro lado, Jamie e seu marido, o jovem gorducho com jeito suave e simpático, Billy Davidoff, eram amigos de Richard Kliman, escritor sobre assuntos literários e culturais, que está obcecado com a possibilidade de escrever sobre um grande segredo sobre a vida de E. I. Lonoff. Ele cerca Amy e Nathan Zuckerman para que ambos contribuam com seu livro, visto que ambos se negam a ajudar.

"Não há uma situação que um homem apaixonado não consiga explorar em proveito próprio"

Essa frase, para mim, define a relação que os personagens masculinos desenvolvem em toda a obra. Zuckerman, apaixonado por Jamie, dá extensão à sua mais recente obra literária criando diálogos fictícios e dotados de qualidade sexual entre ambos. Kliman, por sua vez, apaixonado pela ideia de escrever uma obra com potencial de sucesso, empreende uma batalha fortemente ofensiva para conseguir a contribuição de dois indivíduos que detêm conhecimentos essenciais para seu livro. Billy Davidoff, por sua vez, aproveita por si a história e a vida de Jamie num movimento de descoberta e autodescoberta e de dedicação conjugal anômalo.

Como pano de fundo da obra, o medo e a neurose novaiorquina pós-11 de setembro. A vitória de Bush nas eleições de 2004, contra Al Gore, representam para o casal Jamie e Billy um convite a novos ataques terroristas e a expansão do clima de ódio contra os americanos ao redor do mundo. O medo que acompanha o casal é o principal motivo para que Jamie, principalmente, opte pela mudança da cidade para o campo.

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